Ciclista baiano representará o Brasil no Mountain Bike em Paris
Publicado em 10 de junho de 2024 às 11:38
Difícil imaginar, mas o 15º baiano classificado para a Olimpíada de Paris é um atleta fruto do pacato e místico Vale do Capão. Foi lá que nasceu e foi criado Ulan Bastos Galinski, 25, filho de uma brasileira e um francês (Maryanne Bastos e Jean Paul Galinski, donos do Circo do Capão), e que fez do seu habitat natural a principal ferramenta para se tornar o principal ciclista de Mountain Bike do país na atualidade.
“É com muito orgulho que eu falo que eu sou do Vale do Capão e que um chapadeiro da Chapada Diamantina está chegando hoje em uma Olimpíada. Sempre pratiquei muitos esportes e tive bastante contato com a natureza. A bicicleta sempre foi o meu meio de transporte para ir à escola, à casa de amigos, que também só rodavam para cima e para baixo de bike. Quando vi pela primeira vez uma competição grande [a Ultramaratona de Mountain Bike Brasil Ride, com passagem por Mucugê, em 2013], percebi que aquele era um esporte que gostaria muito de desenvolver”, explicou Ulan Galinski.
Para começar a disputar competições no Mountain Bike, Ulan teve que ‘abandonar’ o sonho de ser jogador de futebol (chegou a passar em uma peneira do Bahia) e lutador de Jiu Jitsu. “Era coisa demais. Sou um apaixonado por esportes. Mas um professor da escola me disse que, se quisesse realmente alcançar o sonho de viver do esporte e disputar grandes competições, teria que escolher um e me especializar. Foi justamente quando conheci o ciclismo profissional”, explica o atleta.
“Virou uma febre para mim, porque meus melhores amigos também passaram a competir em algumas provas e os dois melhores atletas da Bahia naquela época eram também do Capão. Gostei bastante da experiência de competição e sempre gostei de testar meus limites. Mas é algo que me chamou a atenção no Mountain Bike e que tem tudo a ver comigo e com os valores da minha criação, foi o respeito e a união que os ciclistas tinham um pelo outro. Ali, naquele ambiente, tudo o que eu aprendi no Vale do Capão fazia muito sentido. Me apaixonei”, concluiu Ulan.
Virada de chave
O início das competições locais aconteceu em 2014, mas foi com a chegada ao Capão do estadunidense Rolf Rimrot, que Ulan Galinski passou a se dedicar quase que integralmente ao ciclismo e às planilhas de treino. “Em 2015, por coincidência mágica, me mandaram um anjo da guarda dos Estados Unidos para morar no mesmo lugar que eu e então a gente começou um trabalho ali juntos, e eu passei a realmente entender a importância da disciplina no esporte. Conquistei o meu primeiro título baiano na categoria Júnior e depois dali, daquela alegria gigante e inexplicável de ser campeão, nunca mais parei de buscar voos mais altos”, conta.
Em 2016, Ulan Galinski passou a fazer parte da equipe TSW Team Bahia, comandada por um de seus principais mentores, Maurício Cruz. Em 2018, aos 19 anos, ele deixou o Capão com um contrato com a equipe nacional da TSW, com base em Governador Valadares, em Minas Gerais. Em 2020, o baiano estreava na Áustria em um Campeonato Mundial, e terminou em 14° lugar entre os atletas sub-23, melhor resultado de um brasileiro na história da categoria.
Ulan já havia conquistado então o prestígio de competidor de nível internacional e passou a fazer parte do Caloi Team, comandado pelo maior atleta da modalidade do país, Henrique Avancini, que passou a ser, ao mesmo tempo, tutor e concorrente por uma vaga olímpica. “É um privilégio sem tamanho pode participar dessa equipe. Cresci muito e em 2021 consegui vencê-lo pela primeira vez numa prova. Tínhamos grandes chances de irmos os dois a Paris, mas infelizmente o Brasil ficou com apenas uma vaga e o Avancini deixou as competições no fim de 2023”, explica Galinski, que conquistou seu passaporte para os Jogos como primeiro colocado do ranking olímpico de Mountain Bike XCO (cross country olímpico) da Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC).
Paris é logo ali
Sobre a expectativa para Paris, Ulan Galinski firma os pés no chão e não prega favoritismo às primeiras colocações. “O circuito da prova é técnico, rápido e com bastante cascalho. Não tem muitas raízes, como gostam os europeus e que é algo que nós brasileiros temos dificuldades. Isso pode ser uma vantagem interessante e chego em Paris fora do radar dos principais atletas do mundo, o que também pode ajudar. Contudo, que deixar claro que essa é uma ‘vantagem’ que eu não quero ter no próximo ciclo olímpico. Que chegar em Los Angeles como um dos favoritos, para medalhar. Hoje, não tenho pressão, mas quero surpreender o mundo”, finalizou.
As provas de Mountain Bike XCO em Paris acontecerão nos dias 28 e 29 de julho, na Colina de Élancourt, que fica a cerca de 40 minutos de Paris, no parque Saint-Quentin en Yvelines.