Salvador pode ter surto de cólera? Veja o que dizem especialistas

Salvador pode ter surto de cólera? Veja o que dizem especialistas

Depois de 18 anos, o Brasil registrou o primeiro caso local de cólera. Trata-se de um morador de Salvador, que tem 60 anos e trabalha em Camaçari. As autoridades sanitárias investigam a origem da infecção bacteriana. Diante do novo caso da doença intestinal, surge o questionamento: há chances de um novo surto da doença na Bahia?

Especialistas ouvidos pela reportagem formam unanimidade: ainda não há perspectiva de a doença se espalhar sem controle em Salvador e no estado. O cenário preocupa mesmo assim. O paciente infectado não viajou para outros lugares, o que configura um caso autóctone. Na prática, isso significa que a bactéria causadora da doença está em circulação. Os principais sintomas são diarreia intensa e náusea.

Por enquanto, o caso é tratado como isolado pelo Ministério da Saúde, que não identificou outras pessoas infectadas entre aqueles que tiveram contato com o paciente. Para evitar a disseminação, o rastreio e a atenção aos sintomas devem ser redobrados, como explica a médica infectologista Clarissa Cerqueira.

“Agora, nós precisamos ficar mais atentos aos casos de pacientes que apresentam diarreia intensa e desidratação. Como esse caso foi autóctone, o paciente pegou a doença aqui, e a bactéria está em circulação. Com o rastreio e o diagnóstico precoce, a transmissão e as complicações da doença são reduzidas”, afirma.

A Secretaria Municipal de Saúde de Salvador (SMS) informou que a notificação da doença foi feita no dia 31 de março. Logo após o registro, a investigação para descobrir a origem do contágio foi iniciada. “A Vigilância em Saúde Ambiental de Salvador realizou a coleta de amostras de água na residência do caso e monitorou o teor de cloro presente na água do reservatório, identificando os padrões de potabilidade estabelecidos pelo Ministério da Saúde”, pontua. A Prefeitura de Camaçari investiga os locais onde o paciente se alimentou antes de se contaminar.

O paciente deixou de transmitir a doença no dia 10 de abril e está curado, segundo a SMS. A cólera é causada por toxinas da bactéria Vibrio cholerae, e a transmissão se dá através de alimentos e águas contaminadas com fezes de pessoas infectadas. Em cerca de 75% dos casos, os pacientes não apresentam sintomas.

Quadros graves, no entanto, podem levar à morte. “A cólera causa diarreia aguda e desidratação muito grave, se não for tratada, em alguns pacientes. O paciente pode evoluir para o choque, que é quando perde a pressão do corpo e não consegue oxigenar os órgãos”, explica a médica Clarissa Cerqueira.

No Brasil, os últimos casos autóctones ocorreram em Pernambuco entre os anos de 2004 e 2005, com 21 e cinco casos confirmados, respectivamente. A partir de 2006, não houve casos de cólera autóctones, apenas importados da Angola, República Dominicana e Moçambique. O mais recente, importado da Índia, foi registrado no Rio Grande do Norte, em 2018.

“A ocorrência da doença depois de tantos anos no Brasil é muito preocupante. Alguns países da América Central e da Ásia têm registrado casos, em geral, relacionados às condições socioeconômicas. Este é um sinal de alerta e o serviço de saúde deve estar preparado para notificar os casos”, analisa o médico infectologista Victor Castro Lima. A falta de saneamento básico favorece a contaminação, uma vez que permite o contato de pessoas com água sem o tratamento devido.

Em nota, a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) ressaltou que as medidas necessárias para prevenção e controle, como análise da água, foram prontamente implementadas e que a situação está sendo monitorada.

O primeiro surto de cólera na Bahia aconteceu entre os anos de 1855 e 1856. A doença causou mortes e ficou conhecida como “inimigo invisível”. Na época, os chafarizes que garantiam o abastecimento de água em Salvador viraram preocupação. Pessoas se banhavam e lavavam roupas no mesmo lugar onde ingeriam água, o que facilitava o contágio.

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