Prejuízo planejado? Entenda detalhes do balanço financeiro ‘ano zero’ do Grupo City no Bahia

Prejuízo planejado? Entenda detalhes do balanço financeiro ‘ano zero’ do Grupo City no Bahia

Para além do futebol, o torcedor do Bahia também se preocupa com a parte financeira. A Nação Tricolor levou um susto após um possível vazamento de dados financeiros,com um déficit parcial de R$ 66 milhões no balanço do clube em 2023 – primeiro ano da administração Grupo City no futebol do Esquadrão – considerado “ano zero”.

Além disso, o caixa operacional teria apresentado valor negativo de R$ 245 milhões e que 25% do aporte já foi utilizado. Contudo, o clube ainda não divulgou qualquer balanço de forma oficial. Toda prestação de contas pelo Bahia SAF será divulgada até 30 de abril, respeitando a Lei da SAF (nº 14.193/2021).

Lembrando que os valores referentes ao balanço devem corresponder ao período de maio a dezembro de 2023, quando começou oficialmente a operação da SAF no Bahia. O período entre janeiro e abril do mesmo ano ainda pertencem a associação.

Prejuízo tricolor planejado

Procuramos Marcus Verhine, que desde 2017 ocupava o cargo de presidente do Conselho Fiscal do Bahia, permanecendo até os primeiros meses de 2023, quando foi finalizado o closing na transição para SAF com o City Football Group. Segundo ele, “já havia previsão de prejuízo nos primeiros anos”.

“Quanto à previsão de prejuízo no início da SAF, isso já era esperado por todos, em função do aumento das despesas do futebol”, explica.
O BNews conversou com o especialista em finanças e reestruturação de empresas, Renato Gueudeville.Ele seguiu a afirmação feita por Verhine de que a SAF do Bahia deve registrar prejuízos nos primeiros anos, por conta dos altos investimentos. Sobre isso, Renato estipulou o prazo entre três e cinco anos.

Toda empresa na largada normalmente você tem períodos de investimento. As SAFs no brasil não são diferentes. A largada delas tem alto investimento, liquidando dívida, formando elenco, contratando novos jogadores…Então, se a gente for tratar do caso da Bahia, note quantos jogadores foram contratados…Praticamente se formou uma equipe nova, até mais do que isso, porque veio da Série B e teve que reforçar o time para a Série A”, inicia Gueudeville.

E completa:

“Então o volume de investimento foi maior. Isso sem falar no aporte para liquidar dívida, porque também o aporte houve para liquidar as dívidas vindas da associação. Então, eu acho que teve até uma matéria que falou em caixa negativo, caixa operacional negativo…que é normal, porque houve de fato um aporte para liquidar essas dívidas”, esclareceu.

Também consultamos Paulo Tavares, vice-presidente da Associação Esporte Clube Bahia. Ele afirma que os dados do balanço seguem sendo analisados entre a associação e o Conselho de Administração da SAF tricolor. As informações estão sob regime de confidencialidade e, posteriormente, serão divulgadas aos associados do Esquadrão.

“Não sou especialista contábil, mas pela própria experiência profissional de vida, ter ou não prejuízo, não tem um significado maior, se num contexto de informação tem notas explicativas, se tem outras informações que justifiquem tudo. Nós estamos vivendo algo muito novo. […] Aconteceu um movimento chamado Drop Down, onde ativos e passivos que, vamos dizer assim, que eram do Esporte Clube Bahia, foram para o Bahia SAF. E a partir daí, a Sociedade Anônima do Futebol, passou efetivamente a gerir o futebol. Então, tudo que aconteceu na operação do ano passado, deste novo CNPJ, é que se gera um balanço e toda essa documentação de prestação de conta”, explica Paulo.

Investimentos para SAF do Bahia

Em 4 de maio de 2023, quando adquiriu 90% do futebol do Bahia, o Grupo City se comprometeu a investir o mínimo de R$ 1 bilhão no período de 15 anos. Dentro desse valor, há algumas obrigatoriedades previstas em contrato.

Relembre:

Mínimo de R$ 500 milhões para a compra de jogadores;
• R$ 300 milhões para o pagamento de dívidas;
• R$ 200 milhões para infraestrutura, categorias de base, capital de giro, entre outros – único item não obrigatório em contrato.

Em reunião realizada em janeiro deste ano, o Conselho Deliberativo da Associação do Bahia informou que 79% dos débitos estão liquidados. A dívida do Esquadrão era de R$ 300.935 milhões. O saldo remanescente deverá ser quitado em até três anos.

Sobre o investimento na contratação de atletas, foram investidos cerca de R$ 100 milhões na temporada 2023 e o clube já se aproxima dos R$ 50 milhões investidos neste ano. Existem outros investimentos fora das quatro linhas, como a possível aquisição da Arena Fonte Nova e a construção do novo Centro de Treinamento.

Clubes como Botafogo, Vasco e Cruzeiro, registraram prejuízos no primeiro ano que foi instituído a Sociedade Anônima do Futebol. De acordo com o especialista Renato Gueudeville, isso é algo normal no início da operação e o possível déficit contábil do Bahia não assusta, visto o Know-how financeiro do Grupo City.

SAFs com prejuízos na largada:

• Botafogo: déficit de R$ 248,2 milhões, em 2022;
• Vasco: déficit de R$ 594,5 milhões, em 2022;
• Cruzeiro: déficit de R$ 24,6 milhões, em 2022;
*Atlético-MG: previsão de déficit de R$ 1,3 bilhão, em 2023. Ainda será divulgado o primeiro balanço.

Esses R$ 66 milhões do Bahia, de fato, assim, não preocupa, está dentro do radar, certamente está dentro do planejado deles. E tem um outro ponto que é fundamental nisso, o sócio (Grupo City). Então, o sócio nosso tem uma capacidade de aporte e de investimento grande, então não amedronta isso. Se a gente tivesse um sócio que tivesse descapitalizado (sem recursos), que começasse a fazer loucura, aí sim era uma coisa para complicar, o que não é o caso”, finaliza Renato Gueudeville.

A reportagem do BNews procurou o Esporte Clube Bahia (SAF) para buscar maiores esclarecimentos sobre o assunto. Contudo, após algumas tentativas, não obtivemos retorno por parte do clube. Salientamos que o espaço segue aberto para manifestação.

Fonte: BNews

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