Mulher morre após ter intestino perfurado em cirurgia e família acusa hospital particular de Salvador de erro médico
Publicado em 22 de abril de 2024 às 09:35
Duas cirurgias feitas para que Rejane Pimentel, de 56 anos, voltasse bem para casa terminou em uma tragédia que deixará uma ferida eterna para a família. Após dias internada no Hospital Jorge Valente, em Salvador, a paciente veio a óbito após uma sequência de erros percebidas pelos familiares, especialmente pela filha dela, Carol Pimentel, que denunciou o caso e conversou com o BNews sobre o assunto.
Com longo histórico de miomas e cistos, Rejane marcou de realizar a cirurgia em fevereiro, contudo, na semana em que faria o procedimento, teve uma virose, que lhe causou até mesmo diarreia, a deixando bastante debilitada. A cirurgia foi realizada apenas uma semana após a doença, o que a filha de Rejane classificou como “o primeiro erro” da sequência.
Foi no dia 26 de fevereiro que a cirurgia foi realizada. Aparentemente, um sucesso, até que, no dia seguinte, Rejane passou a sofrer algumas dores e enjôo, que se tornaram cada vez mais fortes e mais frequentes. A cirurgiã responsável pelo procedimento, contudo, não compareceu ao quarto da paciente por dois dias.
Segundo Carol, os enfermeiros passavam a situação de Rejane para os médicos plantonistas, que afirmavam ser uma reação normal pós-cirurgia. “Passava remédio para dor, remédio para enjôo, e diziam que era normal, era gases e efeito da anestesia. Ela sentia muita dor no abdômen, a barriga estava inchando”, disse Carol ao BNews.
Carol conta ainda que, no dia 27, Rejane apresentou febre, algo que, misteriosamente, não consta no prontuário médico acessado pelos familiares. No mesmo dia, Rejane precisou tomar remédio controlado para dormir, mas sem sucesso.
Além disso, no dia 27, uma médica, não identificada, solicitou exames de imagem, de sangue e de urina para avaliar a situação da paciente. A médica, no entanto, teria afirmado que o resultado do exame de sangue estava normal, não sendo, portanto, necessário um exame de imagem.
Apesar de alegaram normalidade no resultado de exame de sangue, segundo a filha de Rejane, que é biomédica, foi identificado que os leucócitos da sua mãe estavam em quase 13 mil. “O normal de um leucócito é 10 mil, acima disso pode ser indicativo de uma infecção, eles ignoraram esse sinal”, declarou.
No dia 28, 48 horas após o procedimento, Rejane não conseguia comer, beber água ou falar de forma normal. Ela também apresentava dor intensa, vomitava e não urinava pela dor que sentia, o que fez com que Carol exigisse o exame de imagem que havia sido solicitado, mas não feito.
“Chegaram para levar minha mãe para a sala do exame de imagem. Só foi um maqueiro. Ele queria que minha mãe se levantasse, mas eu disse ‘ela não consegue levantar’. Eu que tive que ajudar o maqueiro a fazer a remoção da minha mãe de uma maca para outro”, contou.
Ainda sem o resultado do exame, um médico gastroenterologista avaliou a mãe de Carol, dando batidas e apertos na barriga da mulher, que gritava de dor. Segundo a denunciante, o profissional afirmou que Rejane estava apenas com gases. Para avaliar novamente a situação, ele propôs uma sonda nasogástrica, mesmo com as queixas de Carol sobre o fato de a mãe ter um severo desvio no septo, o que impossibilitaria o exame.
“Minha mãe tinha desvio no septo, até para fazer o exame de Covid ela teve muita dificuldade. Eu avisei que ela tinha um desvio muito severo, mas eles insistiram a ponto de o nariz dela sangrar”, disse.
Enquanto acontecia a tentativa de sonda, a médica responsável pela cirurgia de Rejane apareceu no quarto pedindo para que o exame fosse suspenso, pois a paciente estava com líquido circulante na barriga, ou seja, um acúmulo de líquido na região abdominal.
Segunda cirurgia
“Vou ter que abrir sua mãe de novo”, foi o que teria dito a médica cirurgiã denunciada. A frase mexeu com Carol, filha de Rejane.
“Eu disse ‘abrir’? Parece que está com um bicho. Foi aí que eu me desesperei. Ela disse ‘fique tranquila, a gente precisa ver o que foi porque pode ter sido só uma hemorragia porque a cirurgia da sua mãe foi muito complicada’.”, contou Carol.
Rejane foi levada para cirurgia por volta das 7h30. Às 9h13, uma enfermeira informou que a cirurgia havia sido um sucesso e que a paciente estava bem. Cerca de 1 hora depois, os médicos responsáveis pela cirurgia informaram que o procedimento havia sido finalizado e que foi um sucesso. No prontuário médico, segundo Carol, havia a informação de que o procedimento havia terminado às 10h15.
“O que foi que aconteceu entre 9h30 e 10h15? Já que a enfermeira disse [que estava tudo bem], às 9h13. Eu tenho tudo registrado em WhatsApp, eu avisando aos meus familiares. Entre 9h13 e 10h15, o que foi que aconteceu nesse horário?”, questionou a filha da paciente.
Segundo Carol, os médicos relataram que Rejane sofreu um rompimento do intestino, possivelmente, por causa de uma sensibilidade que o órgão apresentava por causa de gases.
“Ela identificou desde a primeira cirurgia essa aderência e essa sensibilidade do intestino, que ela disse que as paredes do intestino de minha mãe estavam muito finas. Por que ela ignorou esses sinais? Eu comecei a chorar e o doutor olhou para mim rindo”.
“Menina, sua mãe está bem, mas ela está na UTI, porque ela tá com sepse, porque houve espalhamento de fezes no abdômen, houve abscesso”, teria dito o médico.
De acordo com os profissionais, Rejane sairia da UTI quatro dias após a segunda cirurgia. A mulher, no entanto, faleceu naquela data.
Pronunciamento do hospital
Em nota enviada ao BNews, o Hospital Jorge Valente (HJV) informou que “o procedimento cirúrgico foi realizado por profissional credenciada ao plano de saúde da paciente, médica experiente e qualificada na área, especialista em Ginecologia e Obstetrícia, devidamente registrada no Conselho Regional de Medicina da Bahia (Cremeb).”
“Durante todo o procedimento cirúrgico e internação da paciente, o Hospital ofereceu os cuidados para uma assistência completa, disponibilizando todas as condições necessárias, bem como suporte cirúrgico, clínico e esclarecimentos à paciente e família”, prosseguiu.
Ainda no comunicado, o hospital afirmou que “não foi procurado pela família à época da internação ou recentemente, não existindo registro de reclamação ou insatisfação quanto à assistência prestada”.
“Ainda assim, o HJV conta, em sua estrutura interna, com a Comissão de Análise e Revisão de Óbito, a qual avalia 100% dos óbitos ocorridos no hospital. Esta comissão garante o exame criterioso de todos os casos. Sobre a situação específica da paciente, até o momento o Hospital não foi notificado quanto a inconformidades.”
“O Hospital Jorge Valente coloca-se à disposição para acolher e prestar quaisquer informações adicionais aos familiares”, finalizou a nota.
Matéria: reprodução BNews
Foto: Reprodução/Arquivo pessoal/Divulgação