Voluntariado
Publicado em 5 de julho de 2024 às 09:45
Fazer voluntariado é dedicar parte do próprio tempo e energia ao serviço das outras pessoas, teoricamente sem qualquer compulsão e sem almejar nada em troca. A ação voluntária é coessencial à vida; é uma necessidade humana fundamental. Para algumas pessoas o voluntariado é uma escolha de vida, para outras uma vocação, para outras ainda uma forma de dar algo, não só aos outros, mas sobretudo a si próprias. Fazer voluntariado significa então não apenas trabalhar para pessoas, mas com pessoas, dentro da sua e de outras comunidades. Significa colocar as próprias competências à disposição de outras pessoas, sobretudo as mais vulneráveis.
O voluntariado não é um dever, como pagar impostos. É uma necessidade, a necessidade de se entregar às outras pessoas.
As ações humanas podem ter diferentes motivações: há pessoas que agem por interesse, se se movimentam dentro do regime de mercado; outras por dever, se se enquadram na categoria de estado; outras ainda por amor, ágape ou sua mais nobre expressão de amor fraterno e desinteressado, se for voluntária.
Tudo faz crer que ajudar os outros pode ser um modo decididamente mais eficaz de fazer o bem, especialmente para si mesmo. Pode ser natural pensar, de fato, que a atividade de se dedicar a ajudar pessoas possa ser um benefício apenas para aqueles a quem esta ação se dirige, mas um estudo trouxe à luz uma verdade completamente nova, que poderia estimular as pessoas a se lançarem com maior dedicação às atividades voluntárias.
Um estudo publicado no Journal of Psychosomatic Research, realizado numa amostra da população do Reino Unido, demonstrou que o voluntariado ou as atividades de caridade reduzem os efeitos da dor física na capacidade de trabalho das pessoas. A referida análise destacou que a dor física é uma das principais razões pelas quais as pessoas vão ao pronto-socorro no Reino Unido e é conhecida por impactar negativamente a qualidade de vida de uma pessoa, incluindo sua saúde mental, produtividade no trabalho, as relações com a família e no local de trabalho. Mas a solução para este problema parece ser mais simples do que o esperado: a investigação sugeriu de fato que o voluntariado em qualquer organização ou a dedicação à solidariedade reduz os efeitos da dor física nas diversas nuances da vida quotidiana, como o trabalho.
De acordo com aquele estudo, os comportamentos pró-sociais (voluntariado) estão ligados a benefícios diretos para a saúde mental e física: podem de fato criar emoções positivas poderosas, reduzir humores negativos como o stress e podem influenciar positivamente o físico, inibindo a dor. Um resultado que poderá levar muitas pessoas a considerar a possibilidade de dedicar parte do seu tempo aos outros, conscientes do benefício direto que as atividades pró-sociais podem trazer não só para a comunidade, mas também para si próprias.
Além de afastar a depressão, o voluntariado faz aumentar a autoestima e melhorar o bem-estar geral; dedicar-se aos outros também prolongaria nossas vidas. Os mecanismos subjacentes a esta afirmação ainda estão sendo estudados: alguns investigadores dizem que os voluntários ganham mais anos com o movimento corpóreo e por estarem mais ao ar livre;outros dizem que os benefícios físicos derivam da satisfação mental, com atividade cerebral que influencia tanto o sistema imunológico como o metabolismo, com resultados positivos, repercussões na saúde de todo o organismo, até à sua longevidade. Em suma, o voluntariado parece ser uma injeção de otimismo e bem-estar que faz bem ao corpo e à mente de quem o realiza.
Com tantas razões a seu favor, é natural que muitas pessoas se apressem por exercer alguma atividade voluntária.
Acolhendo tantos voluntários e voluntárias do Brasil e do mundo, nas Organizações da Sociedade Civil onde temos atuado, fazemos memória de experiências acumuladas e que habitualmente partilhamos com quem nos busca no afã de fazer uma atividade voluntária.
O voluntariado deveria ser uma ação prazerosa também para quem o exerce. Buscar a atividade mais próxima do que lhe apraz pode ser determinante para o sucesso da ação a ser desenvolvida.
“É no chacoalhar da carroça que as abóboras se ajeitam”. Vá com calma; não tenha pressa em fazer. Observe, escute, conviva e “pari passu” vá descobrindo, junto ao público que você escolheu, a melhor maneira de o servir. Peça licença para chegar com o seu serviço e saber, reconhecendo e valorizando os serviços e saberes já ali presentes, muito antes da sua chegada e que permanecerão (quiçá aprimorados) depois da sua partida.
O seu serviço será uma oferta livre e gratuita, mas que seja exercida com responsabilidade e compromisso. O que for estabelecido entre você e o público de atuação, deverá ser cumprido. Sem atrasos, sem faltas injustificadas, sem alterações que interfiram na rotina daquele grupo que o acolheu na ação voluntária. O seu compromisso de voluntariado fará parte da sua agenda.
A presença da pessoa voluntária não deve onerar a Instituição ou comunidade que a acolhe para este serviço. Ideal seria que a presença de voluntários e voluntárias fosse ocasião para aqueles grupos se beneficiarem, para além das atividades desenvolvidas pelos voluntários e voluntárias, com novas ações e doações, fruto de uma generosidade que tem a bela mania de se proliferar sem fronteiras.
Autor: Padre Alfredo Dorea
*Padre Alfredo Dorea (@padre.alfredo) é um anglicano amante da vida, da solidariedade e da justiça social. Com os movimentos populares, busca superar todo preconceito e discriminação. Gosta de escrever e se comunicar.