Santo Antônio

Santo Antônio

“Trezenas de junho, é tempo sagrado na minha Bahia”, canta o poeta e compositor, meu compadre J Velloso, bem expressando o que passa nos corações e vida de milhões de devotas e devotos de Santo Antônio.

Trazendo em uma das mãos um livro – a Bíblia, sobre a qual está o Menino Deus e na outra mão o pão dado aos mais empobrecidos e vulneráveis, a imagem do santo mais popular do mundo ocupa lugar de destaque nos altares domésticos nos treze primeiros dias do mês de junho.

Santo Antônio de Lisboa, Santo Antônio de Pádua, Santo Antônio do Panteon (Porto Alegre), Santo Antônio do Descoberto (Goiás), Santo Antônio de Pari (São Paulo), Santo Antônio dos Lopes (Maranhão). Em Salvador, Santo Antônio dá nome ao bairro Santo Antônio Além do Carmo e é o mesmo Santo Antônio da Barra, do bairro da Mouraria, do Convento de São Francisco, fortes e logradouros. A “Terça da Benção”, no Pelourinho, assim o é pela tradição da Benção de Santo Antonio concedida todas as terças feiras, na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e no Convento de São Francisco.

O jovem Fernando de Bulhões e Taveira de Azevedonasceu em Lisboa, em 1195; ingressou na Ordem dos Agostinianos aos 15 anos. Dez anos depois, já em Coimbra, foi ordenado sacerdote e adotou o nome de Antônio ao ingressar na Ordem dos Frades Menores, fundada por São Francisco de Assis.

Conta-se que na época do 3º bispo do Brasil, Dom Antônio Barreiros, que aportou em Salvador em 1576, uma das naus da armada de Aroxela invasora da Costa da África, naufragou na capitania de Sergipe Del Rey, e uma imagem de Santo Antônio foi lançada ao mar. Os sobreviventes foram presos e enviados a Bahia, a pé. Na altura de Itapuã se depararam com a imagem de Santo Antônio na areia.

A imagem foi levada ao bispo que a recolheu no Convento de São Franciscco da Bahia, onde permaneceu por alguns anos.

Em 1705 o Senado da Câmara de Salvador solicitou e o governador-geral D. Rodrigo da Costa, aceitou que Santo Antônio sentasse praça no Forte de Santo Antônio da Barra, no posto de Capitão-intertenido, com o soldo sendo pago ao síndico do Convento de São Francisco. Pelos decretos de 13 de Setembro de 1810 e de 25 de novembro de 1814, o soberano promoveu ainda Santo Antonio aos postosde Major e de Tenente-coronel, respectivamente.

Na Bahia, Santo Antônio é padroeiro de cidades como Alagoinhas, Guanambi, Jequié, Ruy Barbosa e Santo Antônio de Jesus. Santo Antônio foi também o primeiro padroeiro da cidade do Salvador.

A peste de 1685, que assolou quase a totalidade da América Portuguesa, tinha pelo menos uma característica em comum com as epidemias que eclodiam na Europa coetânea: as cidades eram o epicentro da crise. O surto da peste amarela atingiu também a população de Salvador, uma localidade suja, sem saneamento básico. Muitas vidas foram ceifadas pela doença e os padres começaram a pregar sobre as qualidades salutíferas da devoção aos santos contra a epidemia. Os médicos recomendavam piras acessas para o fogo consumir a infecção e a fumaça perfumar o ar, já os padres consideravam importante rezar na intenção de algum santo.

O governo da época, Antonio Luis Telo de Meneses, o Marques das Minas, adotou algumas medidas saneadoras e as mortes dimuniram e depois cessaram, assim como a peste.

Em um sermão que pregava a importância da devoção a são Francisco Xavier, o padre Francisco de Almeida explicou como este santo salvou a cidade de Salvador da peste.

Os jesuitas encabeçaram então um “movimento popular” e pressionaram o Senado da Câmara para que São Francisco Xavier fosse declarado padroeiro da cidade do Salvador, o que aconteceu por bula papal de 10 de maio de 1686.

Mas, nesta cidade onde “todo mundo é de Oxum”, Santo Antônio (Ogum) tem lugar privilegiado no coração do povo, que no mês de junho faz de suas casas oratório e com flores, foguetes, licores, rezas em latim e vernáculo, incensos e ladainhas, agradecem, suplicam e repetem com o poeta:

“que seria de mim, meu Deus, sem a fé em Antônio”.

Este ano faremos nosso Triduo a Santo Antônio via instagram: @padre.alfredo, sempre às 19h.

 

Autor: Padre Alfredo Dorea

*Padre Alfredo Dorea (@padre.alfredo) é um anglicano amante da vida, da solidariedade e da justiça social. Com os movimentos populares, busca superar todo preconceito e discriminação. Gosta de escrever e se comunicar.

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