Está escrito!

Está escrito!

Surgem do nada: os berros, os folhetos, as músicas, as mensagens subliminares.

Por todos os lados, por todos os meios, de todas as formas, forçam-nos a enfiar goela abaixo o que para alguns é “a verdade”.

Ai dos “endemoniados” que se mostrarem incomodados com os decibéis, a chuva de saliva ou a intolerância, o racismo religioso e a manifesta tentativa de proselitismo.

Àqueles que são “do mundo” nada mais que o inferno, a perdição, a condenação, porque assim “está escrito”.

Toda e qualquer tentativa de negociação ou argumentação será castigada!

Nenhuma possibilidade de diálogo, interpretação ou hermenêutica de um texto escrito por mãos humanas, sob multíplices interesses e em contextos absolutamente diversos daquele no qual hoje é lido ou vociferado.

Nenhuma consideração com os bilhões de homens e mulheres que não tiveram acesso ao que “está escrito”, por absoluta impossibilidade, capacidade de leitura ou manifesto desinteresse.

Os “eleitos e eleitas” não se curvam ou se permitem escutar senão o que pregam, os iluminados, num show de milhões onde o céu é a “prosperidade” alcançada após longos percursos dizimais, ouros e favores.

Uma leitura “fundamentalista”, que toma as passagens bíblicas ao pé da letra, rejeitando qualquer forma de análise histórico-crítica, bem como rompendo a unidade dos aspectos divino e humano nas Escrituras, assumindo que essa é a verdade “evidente” , corre o risco de perturbar a comunicação genuína da Bíblia, transformando-a em um livro de história ou física, perdendo o que ela realmente é, seu significado mais profundo, ou seja, a Revelação de Deus à humanidade.

O fundamentalismo também leva a uma grande estreiteza de visão: de fato, considera uma cosmologia antiga ultrapassada como conforme à realidade, porque se encontra expressa na Bíblia, o que impede o diálogo com uma concepção mais aberta da relação entre cultura e fé. Em vez disso, são as relações fundadoras entre Deus e a criação, entre Deus e a humanidade, bem como as relações entre a pessoa humana – criada à imagem e semelhança de Deus – e o resto da natureza, que constituem o núcleo essencial do que está escrito.

Que assim seja!

 

Autor: Padre Alfredo Dorea

*Padre Alfredo Dorea (@padre.alfredo) é um anglicano amante da vida, da solidariedade e da justiça social. Com os movimentos populares, busca superar todo preconceito e discriminação. Gosta de escrever e se comunicar.

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